Divergences. Architecture in Latin America and Discourses of the End of the Century
Editor
Ingrid Quintana-Guerrero
(livro disponível apenas em inglês)
ISBN 9786587205304
Pensar no ethos da arquitetura contemporânea da América Latina leva à identificação de categorias amplas e flexíveis de estudo. A posição que reconhece contemporaneamente a osmose, a hibridização - conceito de García Canclini, cuja assimilação errônea na arquitetura foi criticada por Felipe Hernández, e a transmodernidade - segundo o argentino Enrique Dussel - se desvencilha em muitos trabalhos acadêmicos moralizadores (e polarizadores!) desde o início da segunda década do século XXI. Isso coloca uma situação fictícia. Nas palavras de Silvia Rivera-Cusicanqui, o que acontece em nosso território não é uma miscigenação, mas uma coexistência de fenômenos heterogêneos (em torno do colonizador e do colonizado) que não aspiram a se fundir nem a produzir novos termos. No entanto, considerando que a América pré-colonial não era homogênea a priori, essa coexistência (ou sobreposição) de várias Américas Latinas pode ser a condição original de nosso subcontinente.
Em meio à inegável coexistência de múltiplas realidades latino-americanas, e sem detrimento das justas reivindicações da vindicação indígena na construção intelectual e física de nosso território, a negociação é fundamental. Esta palavra, principalmente em cenários de conflito, implica tolerância e renúncia mútua para alcançar a conciliação e evitar a tendência opressiva daqueles que Tuck e Wayne Yang chamam de "sujeitos pós-coloniais empoderados". Em minha opinião, essa tentativa conciliatória está presente na maioria das construções intelectuais da arquitetura latino-americana, durante o limiar do século anterior. Muitos acadêmicos contemporâneos hoje não estão abertos a essa negociação, sob o pretexto de repetir o ciclo colonizador. No entanto, parece-me ainda necessário à luz da tese de Santiago Castro-Gómez, para quem "somente radicalizando a universalidade, isto é, universalizando seu 'ponto de exclusão', o movimento decolonial pode alcançar seus objetivos". A proposta de Castro-Gómez implica o reconhecimento da vulnerabilidade do outro, seja branco, negro ou indígena, e daquilo que reverbera minimamente de seu ethos (apesar da afirmação de Rivera) em nosso pensamento e prática arquitetônica atual.
É nesse contexto de coexistência e negociação, não apenas entre culturas nativas e doutrinas centradas na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), mas entre diversos imaginários latino-americanos que colidem de maneiras por vezes violentas e por vezes fortuitas, que os discursos arquitetônicos enunciados neste livro se desdobram. Diante da escassez de obras que abordam transversalmente o panorama discursivo da arquitetura contemporânea da América Latina, particularmente no crepúsculo do século XX, meu propósito como co-autora e editora é elaborar um exercício retrospectivo e despretensioso a partir do qual, por meio de vozes divergentes da América Latina, emergem linhas discursivas comuns.
Ingrid Quintana-Guerrero